Pintura de Francine Van Hove |
ESCREVO PARA EXPURGAR O INEXPLICÁVEL,
folgar o preenchimento, legitimar a causa,
esbater em palavras o efeito escravo
do silêncio, o voo enclausurado das asas
nas velas de cinza, no entalhe da folha
algemada a castiçais de preces
Escrevo na submissão do espaço, os sentidos
mudos do diálogo amotinado,
a estridência de clamor infinito, no movimento
ininterrupto, íntimo de espectros
Escrevo dentro dos contornos burilados,
o cansaço incabível do sono, o pavor da vigília
desprovida, desconcentrada, assaltada
de delitos
Escrevo-me e respondo-me, sucessivamente,
na demência encastelada de arrumação secreta,
encavalitada de arestas e de cumes,
no volume lascivo do fôlego
Escrevo-me e rescrevo-me, e resigno-me
ao silêncio revezado de gritos,
embezerrados
Escrevo-me e deito-me,
na amplitude pontuada, a cabeça
apenas, repousada nas virgulas,
a repisar as cismas nas pausas,
o clamor incandescente, tatuado,
na exaltação luminosa dos espelhos
E são as letras os meus sentidos
E são as palavras a minha música
O texto gradeado sobre branco
o meu avesso desgastado,
sulco e sombra
Assim, sou e impeço-me, desnecessariamente
verto-me, no decalque da tinta, neste dialecto
lácteo, insondado
que escrevo, leio, mas não domino,
ouso
Poema de Manuela Carneiro in Lector
mudos do diálogo amotinado,
a estridência de clamor infinito, no movimento
ininterrupto, íntimo de espectros
Escrevo dentro dos contornos burilados,
o cansaço incabível do sono, o pavor da vigília
desprovida, desconcentrada, assaltada
de delitos
Escrevo-me e respondo-me, sucessivamente,
na demência encastelada de arrumação secreta,
encavalitada de arestas e de cumes,
no volume lascivo do fôlego
Escrevo-me e rescrevo-me, e resigno-me
ao silêncio revezado de gritos,
embezerrados
Escrevo-me e deito-me,
na amplitude pontuada, a cabeça
apenas, repousada nas virgulas,
a repisar as cismas nas pausas,
o clamor incandescente, tatuado,
na exaltação luminosa dos espelhos
E são as letras os meus sentidos
E são as palavras a minha música
O texto gradeado sobre branco
o meu avesso desgastado,
sulco e sombra
Assim, sou e impeço-me, desnecessariamente
verto-me, no decalque da tinta, neste dialecto
lácteo, insondado
que escrevo, leio, mas não domino,
ouso
Poema de Manuela Carneiro in Lector
2 comentários:
Escrever liberta-nos! Ler as suas escolhas, incentiva-me.
Abraço
É urgente ousar
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