quarta-feira, 4 de abril de 2018

AO LONGE OS BARCOS DE FLORES

Salvador Dali


Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,
‑ Perdida voz que de entre as mais se exila,
‑ Festões de som dissimulando a hora.


Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.


E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?


Só, incessante, um som de flauta chora...
Camilo Pessanha, "Clepsidra"

4 comentários:

MJ FALCÃO disse...

Obrigada. É um dos meus poemas preferidos e um dos poetas de que gosto! Obrigada pelo seu cometário no meu post. Bom fim de semana, Rosa Brava (bem, tive de pensar logo no conto do Régio...)

Graça Pires disse...

Camilo Pessanha. É tão bom relê-lo!
Uma boa semana.
Um grande beijo, minha Amiga.

Rosa Brava disse...

Obrigada, Maria João pela presença e palavras. E pensou muito bem... uma bela história essa...
Um abraço

Rosa Brava disse...

Obrigada, minha querida Amiga.
Ainda bem que gosta da minha escolha. Diz-me muito este poema.
Um grande beijo também para si e uma excelente semana.