sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Adormecida



Muitas vezes recebemos emails cujo conteúdo vale a pena ser partilhado, como aconteceu com este poema, enviado por A.H. que agradeço sensibilizada.



Imagem de Ana Muñoz



"Ses longs cheveux épars la couvrent tout entière.
La croix de son collier repose dans sa main,
Comme pour témoigner qu’elle a fait sa prière,
Et qu’elle va la faire en s'éveillant demain."
(A. de Musset)


Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos – beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P’ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! – tu és a virgem das campinas!
"Virgem! – tu és a flor de minha vida!..."

("Adormecida", Poema de Castro Alves in "Espumas Flutuantes",1870)

4 comentários:

Paula Raposo disse...

Um belíssimo poema que deve ser partilhado! Obrigada por isso mesmo. Beijos para ti.

Manuel Veiga disse...

tropicalíssimo!!!

belo...

Maria Clarinda disse...

Obrigada pela partilha, está Muito bonito!
Jinhos

observatory disse...

sonhas com coisas boas?