domingo, 6 de maio de 2007

No silêncio da terra ...

Óleo de Eric Drooker

No silêncio da terra. Onde ser é estar.
A sombra se inclina.
Habito dentro da grande pedra de água e sol.
Respiro sem o saber, respiro a terra.
Um intervalo de suavidade ardente e longa.
Sem adormecer no sono verde.
Afundo-me, sereno,
flor ou folha sobre folha abrindo-se,
respirando-me, flectindo-me
no intervalo aberto. Não sei se principio.
Um rosto se desfaz, um sabor ao fundo
da água ou da terra,
o fogo único consumindo em ar.

Eis o lugar em que o centro se abre
ou a lisa permanência clara,
abandono igual ao puro ombro
em que nada se diz
e no silêncio se une a boca ao espaço.

Pedra harmoniosa
do abrigo simples,
lúcido, unido, silencioso umbigo
do ar.


o teu corpo
renasce
à flor da terra.
Tudo principia.
(António Ramos Rosa in "A Pedra Nua"-1972)

6 comentários:

Paula Raposo disse...

Gosto muito do António Ramos Rosa. Beijos.

Graça Pires disse...

Ramos Rosa, sempre profundo, sempre convocando as sombras e ao mesmo tempo tão luminoso. Gosto dele.Um beijo

Carla disse...

Olá :)
Passei para ler as novidades deixar um jinho e votos de boa semana :)
Kiss

VdeAlmeida disse...

Sabes que gosto muito do Ramos Rosa? :-)
Beijinho grande

maresia_mar disse...

Vim ler as novidades e dar-te um alô... Lindo este poema!
Bjhs e bom resto de semana

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

menina brava,

les beaux esprits se rencontrent, disse o principezinho. isto para dizer que vc nem sonha como eu gosto de António Ramos Rosa.
bjo
Júlia